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Foto: Divulgação/Festival Choro Jazz/Centro Cultural do Cariri/Samuel Macedo |
O grande encontro da música do Brasil, no berço cultural e ancestral do Cariri, teve sua primeira noite de shows marcada por beleza, congraçamento e muita emoção. O Festival Choro Jazz, realizado desde 2009 como um dos principais eventos do calendário musical brasileiro, teve sua primeira noite de shows na região sul do Ceará, depois de rtês dias de oficinas. O Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, o CCCariri, no município do Crato, foi o palco para as apresentações de Fabrício da Rocha e Júnior Crato, do Quartchêto e do Baile do Ney Conceição.
Apresentado pela Petrobras, que renovou sua parceria de patrocínio, e pelo Ministério da Cultura, o Festival Choro Jazz chegou a 2024 com muitas novidades, acontecendo pela primeira vez de forma itinerante. As duas primeiras etapas do festival aconteceram em julho, no Pará, nos municípios de Soure e Belém, conectando-se com a cultura paraense, em destaque para a herança marajoara.
Com apoio também do Governo do Ceará e do Instituto Mirante de Cultura e Arte, o Choro Jazz chegou neste semana ao chão sagrado do Cariri, dos verdes vales, da Chapada do Araripe, das inúmeras tradições e manifestações da cultura popular tradicional e de uma infinidade de saberes e fazeres, em diversas linguagens artísticas, com destaque para a música.
O evento, que tem idealização e curadoria de Antônio Ivan Capucho e organização da Iracema Cultural e do Centro Cultural Choro Jazz, está completando 15 anos. E acontece pela primeira vez no Cariri.
As oficinas começaram na terça-feira, 17/9, reunindo músicos profissionais e amadores, iniciantes e veteranos do Cariri e de outros estados - e até outros países, como a Espanha - e os mestres Mauricio Carrilho, Paulo Sérgio Santos, Pedro Amorim, Cacá Malaquias e Ney Conceição.
Confira como foram os shows desta sexta:
Nesta sexta, no CCCariri, tendo João do Crato e Luisa Martins como mestres de cerimônia e Capucho em uma fala inicial de boas-vindas e agradecimentos, o público se emocionou com as apresentações da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, do Povo Kariri do Sítio Poço Dantas, em cortejo pelo centro cultural, enquanto os gaúchos da Sucinta Orquestra com Gilberto Monteiro e Gustavo Garoto tocavam em uma transmissão de televisão para todo o Estado. Uma junção dos pifes e pratos dos Aniceto, do ritual do Toré do Povo Kariri, da cordeona de botão de Gilberto Monteiro, 71 anos, e dos violinos, violoncelo, viola e violão da Sucinta Orquestra, entre a música tradicional gaúcha e cores camerísticas.
Nada mais simbólico, em uma metáfora do encontro entre pontos tão distantes no mapa, o Ceará e o Rio Grande do Sul, para simbolizar o grande entrecruzar de matrizes sonoras e identitárias, saberes, sabores, linguagens, expressões reunidas no Choro Jazz.
Depois desse grande encontro, Fabrício da Rocha e Júnior Crato abriram a programação de shows do festival com uma belíssima homenagem a Hermeto Pascoal, no espetáculo Selestrial, com o desafio de recriar obras do "bruxo" para a formação violão e flauta. Foram aplaudidíssimos - e não somente por "jogar em casa", mas pela beleza, síntese e intensidade de seu show.
Hora e vez então dos gaúchos do Quartchêto ganharem o palco, impressionando o público pela musicalidade e pelo bom-humor, desde os temas mais intimistas, como a balada "Mas tá bonito", de linda melodia desenhada pelo trombonista Julio Rizzo, até o vaneirão - que sempre está na terceira música de cada show do grupo, há nada menos que 22 anos. Após muitos aplausos para um show musicalíssimo, o grupo se confraternizou com as conterrâneas da Sucinta Orquestra e também com artistas cearenses como o sobralense Thesco Carvalho - flagrado "trocando figurinhas" com Julio, que o apontou como um dos grandes trombonistas do País, para muitos agradecimentos do colega cearense.
O Baile do Ney chegou então com uma super banda, uma "all star band", encontro de craques como Arimatéia no trompete, Erivelton Silva na bateria, Bernardo Bosisio na guitarra, Adaury Mothe no teclado, Monica Ávila no saxofone e Kátia Preta no trombone - brilhando em mais um show na primeira noite de apresentações musicais do festival.
Com um repertório bem conhecido, muito suingue, um groove permanente e amplo espaço para a improvisação, além de muito carisma de Ney Vasconcelos e de arranjos muito aplaudidos, incluindo destaques em músicas trabalhadas ao longo da semana por Ney nas oficinas, o Baile colocou todo mundo pra dançar - e pra admirar a improvisação, os contrapontos, as novas possibilidades encontradas para recriações instrumentais de grandes sucessos.
A apresentação teve direito a uma música composta por Ney na região do Cariri, em momentos anteriores, "Cariraço", e a uma recriação do clássico "Loro", de Egberto Gismonti, uma das atrações-destaque do festival.
Encerrando o show, algumas músicas cantadas e um parabéns especialmente dedicado a Rafaela Correia, uma das produtoras do festival, profissional que celebrou 21 anos nesta sexta. Alegria e musicalidade embalados pra presente!
Confira a programação de sábado e domingo:
Neste sábado, 21/9, após um cortejo com o Reisado de Mestre Aldenir, do Crato, quem abre a programação de shows, às 19h, são Gilberto Monteiro, o Quarteto Sucinta e Gustavo Garoto, reforçando a conexão musical entre o Rio Grande do Sul e o Ceará. Considerado uma lenda da música gaúcha, Gilberto, 71 anos, compositor de clássicos do Rio Grande, une sua cordeona de botão às cordas do quarteto de Porto Alegre formado por Clarissa Ferreira e Miriã Freitas nos violinos, Gabi Vilanova na viola e Luyra Dutra no violoncelo.
Às 20h30 acontece o show Carlinhos Patriolino convida Choro Cabuloso. O guitarrista, violonista e bandolinista Carlinhos Patriolino é um nome histórico egresso da geração da Massafeira Livre e referência na música instrumental e se junta ao projeto Choro Cabuloso, idealizado pelo pandeirista e produtor cultural Tauí Castro, em um espetáculo dos mais aplaudidos nos últimos anos em Fortaleza.
Às 22h, hora e vez de mestre Moacyr Luz e do Samba do Trabalhador, levando ao Cariri integrantes da famosa roda de samba que acontece todas as segundas-feiras no Rio de Janeiro, com quadra lotada para a apresentação de um repertório de autenticidade e diversidade. Mais um intercâmbio entre estados e matrizes musicais, destacado pelo Festival Choro Jazz.
Neste domingo, 22/9, a programação começa mais cedo, às 16h, com o Maracaru Uinu-Erê, em cortejo, e com o show de duas outras referências da música instrumental no Cariri: Tâmara Lacerda, jovem violonista e cantora de grande destaque na cena da região, uma artista influenciada pelo festival, seguidora atenta de referências como Egberto Gismonti e Dori Caymmi. Tâmara se apresenta juntamente com Ranier Oliveira, aclamado acordeonista, que brilhou na música no Rio de Janeiro e atualmente mantém uma agenda das mais concorridas com apresentações em diferentes formações e com vários artistas.
Às 18h se apresenta O Trio, criado em 1987 para homenagear Radamés Gnattali, então no aniversário de 80 anos do grande maestro. O grupo conta com os mestres Maurício Carrilho, Paulo Sérgio Santos e Pedro Amorim, na formação inusitada de violão, clarinete e bandolim.
E às 19h30, encerrando a programação do Choro Jazz no Cariri, o palco é de Egberto Gismonti e da Orquestra à Base de Sopro, de Curitiba, com 16 músicos, em uma apresentação especialíssima, fechando esta segunda etapa do festival em 2024 e brindando o público com um grande encontro.
Confira as datas das próximas etapas do festival: Fortaleza e Jericoacoara
Em Fortaleza o Festival Choro Jazz acontecerá nos dias 29 e 30/11 e 1o. de dezembro, no Anfiteatro da Volta da Jurema, na Av. Beira-mar, em parceria com a Secretaria da Cultura de Fortaleza - Secultfor. Na capital, no dia 29/11, também acontecerão oficinas do festival, em parceria com as organizações de educação musical vinculadas à Secultfor e também à ONG Casa de Vovó Dedé, localizada na Barra do Ceará, periferia de Fortaleza.
Em Jericoacoara, o Festival Choro Jazz vai acontecer entre os dias 3 e 8 de dezembro, também incluindo oficinas nos dias 3 a 6/12, além dos shows de terça a domingo, 3 a 8/12.
Serviço:
Festival Choro Jazz. Pela primeira vez no Cariri. No Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, no município do Crato (Av. Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes, 1, bairro Batateiras). Oficinas de 17 a 19 de setembro. Shows de 20 a 22 de setembro. Roda de Conversa com Egberto Gismonti no dia 21 de setembro, na Vila da Música, no Crato. Entrada franca em todas as atividades. Apresentado pela Petrobras e pelo Ministério da Cultura, o Festival Choro Jazz conta nas etapas Cariri, Fortaleza e Jericoacoara com apoio institucional do Governo do Ceará, do Instituto Mirante de Cultura e Arte e do Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo. Mais informações: Instagram Festival Choro Jazz e www.chorojazz.com.